Por Stephanie DOrnelas
A memória  foi sempre um dos fatores de estudo mais abstratos do cérebro humano.  Como nós somos capazes, afinal, de armazenar as informações que chegam  até nós? A resposta para isso é uma verdadeira aula de química, já que  há várias moléculas envolvidas no processo. A psiquiatria continua  descobrindo, além de novos compostos, novos fatos sobre a memória.
O cortisol é  um exemplo das moléculas que estão, segundo estudos recentes,  envolvidas com a memória. Conhecido até pouco tempo por seu papel de  resposta ao estresse e à adrenalina, esse hormônio esteroide é também  capaz de aumentar a memória em curto prazo (aquela que serve para coisas  imediatas e não sobrevive a uma noite de sono).
O estresse  por si só, contudo, já foi comprovado como fator que dificulta a  memória. Isso cria uma situação inusitada: o estresse é ruim para a  memória, mas o hormônio produzido por ela é bom. Essa situação sugere,  como explicam os cientistas, um delicado equilíbrio entre a lembrança e o  esquecimento. Para ter mais pistas sobre como isso funciona, os  pesquisadores estão analisando os neurotransmissores.
Médicos que  se especializam no mal de Alzheimer estão conhecendo um novo composto  químico: a P7C3. Como se trata de uma molécula que protege os neurônios,  um tratamento baseado em P7C3 pode amenizar muito a degradação das  células nervosas, característica do mal de Alzheimer, e adiar os seus  efeitos mais nocivos em pessoas acima dos 60 anos.
O curioso é  que os cientistas, apesar de saberem da importância da P7C3, ainda não  entendem exatamente como ela funciona. A molécula foi descoberta através  de um método de “abordagem indiscriminada”, que consiste de testes de  tentativa e erro com outras substâncias similares. Em outras palavras,  sabem que a P7C3 funciona, mas não sabem como ela atua.
Muita gente  já quis esquecer algo, apagar um ponto da memória. Um futuro onde  haverá um medicamento que permite isso não parece impossível, desde a  descoberta da molécula “CaMKII”. Trata-se de um composto grande:  quimicamente, é uma molécula mil vezes maior que o cortisol ou a P7C3. E  o que torna o CaMKII especial é a suposta capacidade de causar  esquecimento.
Os testes,  por enquanto, foram conduzidos apenas em ratos. Verificou-se que o  CaMKII, após ser injetado no cérebro dos roedores em grande quantidade,  diminuía a memória de curto prazo dos animais, em experimentos  relacionados ao medo em determinada situação.
O problema,  no entanto, é o mesmo do cortisol: para que possa ser aplicado, é  preciso haver um ponto de equilíbrio que os cientistas ainda  desconhecem. Os testes com os ratos mostraram isso claramente, porque a  injeção de CaMKII em excesso afetou outros pontos da memória que eles  não pretendiam alterar. Se você quisesse esquecer apenas uma situação  embaraçosa pela qual passou ontem, por exemplo, acabaria esquecendo  também onde mora, se as doses do medicamento não estivessem corretas.
Os médicos  tentam enxergar um futuro para essa aplicação, já que o CaMKII é um  composto barato e que pode ser produzido em larga escala. Mas é claro  que o seu uso por parte dos humanos ainda está em um futuro muito  distante, porque ainda há muito a ser descoberto sobre o assunto.
Alguns  psicólogos têm se dedicado a imaginar um futuro no qual o CaMKII, por  exemplo, estivesse funcionando, e nós já pudéssemos de fato apagar  qualquer memória indesejada. Isso pode trazer uma série de consequências  sobre as quais há muito que se discutir.
Pondo em  termos práticos: você gostaria de apagar a lembrança de um abuso sexual,  é claro, mas será que há necessidade de apagar algo menos marcante,  como um fim de namoro, um dia ruim no trabalho ou um mau resultado em um  teste?
Os  cientistas alertam para o fato de que as memórias (inclusive as ruins)  ajudam a formar quem somos, a moldar nosso caráter e personalidade.  Apagar qualquer memória à nossa escolha poderia, por exemplo, nos fazer  sempre menos preparados para enfrentar aquela situação no futuro. Essa e  outras consequências, que ainda estão no campo da suposição, precisam  de mais estudo para que se faça um perfil do que um medicamento  apaga-memória poderia proporcionar.

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