sábado, 17 de setembro de 2011

Revolução Silenciosa


Fui chamada ao silêncio, há 16 anos, quan­do, enquanto caminhava às margens de uma praia e quase por capricho, decidi anular o dia seguinte e ficar sem falar. Esse retrocesso do ruí­do e ocupação dos meus dias se mostrou tão instrutivo e repousante que quis repetir a experiência. Desde então, na primeira e terceira segundas-feiras de cada mês, sem exceção, pratico silêncio por períodos de 24 horas.

Quando contei a dois amigos sobre a minha decisão de ficar um dia sem falar, eles reagiram com as mesmas palavras: "Que radical!" Impressionada com a coincidência de suas respostas – afinal, este foi um dia de sem fala, não um divórcio ou de mudança de carreira –, busquei "radical" no dicionário e aprendi que vem do latim radicalis e significa ir para a raiz de algo. Este simples ato alterou a minha vida e se tornou meu melhor professor, testando e curando-me de maneiras que não poderia ter previsto quando comecei. Ofereceu-me a paz e o conforto em um mundo em que essas qualidades são difíceis de encontrar.

O silêncio desses dias, o espaço, permitiu-me descansar para refletir em vez de reagir e pensar sobre o que importa. O tempo promoveu uma ligação melhor com a natureza e comigo mes­ma. Em silêncio, estou mais atenta aos momentos comuns e, portanto, estou aberta ao extraordinário.

Houve uma época em que eram naturais perío­dos de quietude enquanto fazíamos tarefas como lavar pratos e embalar o filho. Hoje estamos cercados pelo barulho, um clamor que é exacer­bado pela tecnologia. Acredito que isso afeta a nossa saúde, da mesma forma que os cientistas dizem que a poluição sonora nos oceanos afoga as músicas que baleias e golfinhos usam para a comunicação. E me pergunto: se a nossa música interior é amortecida, como podemos nos orien­tar? Como podemos nos comunicar?

Recentemente, pesquisei de novo "radical" e, desta vez, notei uma definição que havia esque­cido: "formar uma base ou fundação". O silêncio formou uma base para me fornecer tempo e o es­paço fértil para refletir sobre o tipo de vida que quero ter e como quero vivê-la. Na verdade, pro­vou ser a mais quieta das revoluções. Ele me ensi­nou a ouvir, e assim ouço a música da minha vida.


Experimente o poder restaurador do silêncio nas formas simples 
Convide sua família para acompanhá-lo em uma refeição em silêncio.
Tire um dia sabático sem e-mail, telefones, rádio e TV.
Encontre um labirinto e caminhe em silêncio.
Comprometa-se com um dia sem fala. Prepare a família e amigos antes do tempo para que eles saibam o que esperar.
Por um dia, realize tarefas domésticas ou jardinagem em silêncio.
Dedique algumas horas a sós na natureza.
Psiu!
Aprenda a silenciar

O professor de Yoga João Vieira, coordenador da Nazaré Uniluz, em Nazaré Paulista (SP), que realiza várias atividades de autoconhecimento e retiros, explica como desenvolver a quietude interna.

Como levar os espaços mentais proporcionados pelo silêncio no dia a dia? 
Pequenos detalhes fazem a diferença: evite ligar a televisão, o rádio e mesmo ouvir música enquanto faz outras atividades em casa ou no tra­balho, o que se traduz em atenção plena naquilo que se está fazendo. Quando resolver escutar um CD ou assistir à TV, dedique-se inteiramen­te a essas atividades também. Assim, os momentos de contato com essas mídias serão menores, porém mais significativos, criando gradualmente momentos maiores de silêncio em sua vida.
Quais são os benefícios proporcionados pelo silêncio? 
Podemos falar basicamente em autoconhecimento. No geral, o silêncio é doloroso no começo, uma vez que estamos acostumados ao barulho e às solicitações externas. Muitas vezes não queremos estar sozinhos conosco em função de justamente não querermos resolver questões internas. O silêncio pode nos mostrar que precisamos de ajuda terapêutica, quando não consegui­mos controlar o turbilhão mental que existe e que normalmente abafa­mos com ruídos externos.
Como ter mais silêncio na vida? 
Uma vez que em nossas vidas cotidianas o telefone, parentes e amigos irão dificultar o desafio do silêncio, a melhor técnica seria buscar um local onde se praticam retiros desse tipo, com toda a orientação necessária para iniciantes. Uma vez de volta ao dia a dia, mais importante do que não falar é valorizar cada palavra pronunciada, desco­brindo nela o sagrado.
Por: Anne LeClaire
Tradução: Patrícia Ribeiro

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