segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Uma Reflexão sobre A arte de viver e a Maturidade da Consciência



Muitas vezes nos pegamos pensando acerca da vida e o seu propósito. Estabelecemos metas, objetivos a serem alcançados, desenvolvemos sonhos e ainda assim permanecemos com a sensação de que ainda há uma lacuna dentro de nós. A realidade é que a grande maioria está atrofiando o entusiasmo, o impulso essencial de se descobrir a partir da descoberta da vida. É curioso o fato de que talvez, estejamos negligenciando aquilo a que nos propusemos a aprender na continuidade evolutiva: a arte de viver. Este é fundamentalmente o objetivo central, interior e superior da consciência humana.

A arte de viver, é um aprendizado que, como em toda arte, requer dedicação, comprometimento, suavidade, foco e sinceridade. E paradoxalmente, esquecemos tão rápido deste aprendizado essencial e nos apressamos a aprender a "arte" do sofrer. Infelizmente talvez seja este o status codo Homem "moderno": um dedicado artista da dor. A todo momento, sem nos darmos conta, estamos optando mais pela dor do que pelo viver construtivo. E assim retardamos o processo natural e intrínseco a todo ser vivo: o amadurecimento.Um dos aspectos cruciais no aprendizado da arte de viver, envolve a disposição interior da sensibilidade, isto é, nos tornarmos de novo sensíveis a vida. Entretanto, o sentir a vida é apenas a manifestação da nossa capacidade de nos sentir. É importante transformar a anestesia que nos foi aplicada a partir de valores, crenças e conceitos reducionistas que têm levado o Homem a se abdicar da sua verdade, tornando-o uma máquina que apenas reage sem sentir. A capacidade de nos sentir é uma característica natural. Tal sensibilidade, quando recuperada, nos leva a uma exposição maior e cria-nos a condição de receptividade. Ficamos mais abertos para nós mesmos e conseqüentemente para vida. É quando surge a percepção de sermos tomados pela vida. Sentimos a vida nos penetrando, pois agora estamos plenamente vulneráveis a ela.A receptividade interior é um fenômeno que precede o início da maturação do espírito. Logo, se estamos fechados não amadurecemos naturalmente. Porém se criarmos esta condição essencial, a receptividade, nos desenvolveremos e estaremos novamente sincronizados com a evolução. Como uma semente que, tendo as condições ideais, amadurece, transformando-se em um fruto vigoroso. A questão central é: ninguém poderá aprender a arte de viver por nós mesmos. Da mesma forma, nós somos os únicos responsáveis pelo nosso amadurecimento. Ninguém mais o é.Temos agora definido o valor profundo do domínio desta arte. É se tornando um artista dedicado do viver que dinamizamos a expansão do ser, de modo que nos tornemos, como uma semente, consciências vigorosas e plenas.Portanto é essencial entendermos o que é amadurecer. Amadurecer não é tão somente envelhecer, desenvolver-se biologicamente, chegar a adultidade. Percebemos muitas vezes claramente uma infantilidade presente nos comportamentos dos adultos, dos nossos avós e pais, sem falar no comportamento social cada vez mais incoerente e mimado.Amadurecimento é um processo natural; um potencial de crescer; de expandir-se interiormente. Crescer significa compreender e penetrar cada vez mais no princípio da vida. E pela ótica evolutiva da vida, crescer significa mergulhar cada vez mais profundo em nós mesmos. Descobrir a nossa diferença. A nossa raridade. Entender que somos únicos.O processo de amadurecimento nos leva cada vez mais a um estado de pureza do ser. Ser puro significa ser integral, ser totalmente a nossa diferença, sem nenhum conteúdo que deforme a nossa característica singular. É um estado de riqueza interior. Algo que se aproxima de um renascimento. Existem duas formas de nascer: a primeira ocorre a partir das relações biológicas e, a segunda, pela arte de viver. O amadurecimento nos leva a descobrir a nossa diferença e, quando somos a nossa diferença, renascemos.Chegamos a um outro ponto fundamental: assumir a diferença. Quando falamos de assumir a diferença, devemos compreender que não enquadramos, e não deveríamos nos enquadrar a nenhum modelo que define o caminho a ser seguido, o comportamento a ser exercitado e o estilo de vida a ser reproduzido. Isto implica na expressão da nossa originalidade enquanto consciências singulares. Desta forma poderemos compreender que somos uma semente rara e única; portamos o potencial para gerar um fruto raríssimo nessa grande árvore chamada vida. Logo, amadurecimento também envolve harmonia. Quanto mais amadurecemos, mais somos a nossa diferença. E quanto mais fazemos jus a nossa diferença, mais nos harmonizamos com a nossa natureza e com o próprio universo. Se notarmos o comportamento da natureza, do universo ou até mesmo do nosso próprio corpo, perceberemos que a harmonia nestes sistemas se dá pelas diferenças. O ecossistema se mantém em harmonia graças à fantástica diversidade de espécies. As espécies evoluem graças à magnífica variabilidade genética. Estamos prontos para amadurecer e a única coisa que está faltando, é nos comprometermos com o aprendizado da arte de viver. Já sabíamos como viver. Na infância, manifestávamos a pureza do Eu. Éramos totais. Éramos naturais. Éramos a diferença. Já ensaiávamos a obra a ser executada na adultidade e detínhamos toda a vida num momento de eternidade.Algo está reservado para aqueles que se comprometem a aprender a viver. Um fenômeno mágico acontece: a entrada num movimento vertical em que ampliamos a percepção de que não somos mais do mundo. Estaremos no mundo mas o mundo não estará mais em nós. Alcançaremos o poder de interagir de maneira interdependente. Agir sem a dependência de sermos aceitos. Interagir sem a dependência emocional a pessoas e situações para ser. Este será o momento em que nos tornaremos exímios assassinos; mataremos a mãe, o pai, o padre, o mestre e todas as referências fortes que um dia habitavam dentro de nós, com suas vozes ocultas de comando, que nos impediam de sermos nós mesmos.Só assim conquistaremos a liberdade que nos é de direito. A liberdade de ser nós mesmos. A liberdade de dizer mais não do que sim, sem dramas ou melindres. Pois o dizer não, nos confere mais impressão de liberdade do que sim. O não nos define melhor do que o sim. Refazendo o caminho do não, estaremos prontos para o caminho do sim. Dizer sim sem nos perder. Dizer sim e continuarmos únicos. Dizer sim sem nos tornarmos escravos. Desta forma estaremos abertos à liberdade de usufruir do prazer de viver. Aprender a viver nos leva a recuperar toda naturalidade e espontaneidade para o amadurecimento do espírito. Sabedoria vem da espontaneidade. Espontaneidade vem da nossa diferença. Ser diferente é ser natural; e ser natural é Ser Perfeito, PERFEITAMENTE VOCÊ. 
Por Horácio Frazão
http://existenciaconsciente.blogspot.com/

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