"Aproveitei a maré baixa e visitei os recifes. Nas poças represadas sobre as pedras, vi canteiros de vida: jardins multicores de sargaços.
Eram peixinhos miúdos, coloridos, parecendo jóias travessas.
Escutei ondas bramindo, batendo, incansáveis e imponentes, em negras pedras que pareciam eternas.
Torres brancas de espuma salgada a se erguerem do embate das vagas bilhões de vezes repetidas, desde eras sem contas, adorando e louvando os deuses lá do mais alto. Senti na pele presença de sal, ardores de sol, batidas do vento.
Ali mergulhei e nadei, aproveitando as poças mais profundas.
Depois, sentei-me nas pedras e, gostosamente, deixei que sobre mim caíssem espumantes cascatas de água despejadas de arrebentação do quebra-mar.
Gozei farta refeição para meus sentidos ávidos de beleza. Aprofundei ao máximo aquela aventura estática, estética, poética e mística. Fiquei parado, calado, atento...
Fiquei tão estático que enganei peixinhos e iludi camarões, vagando descuidados em torno de mim. Mistificados, pensaram por certo que eu era mineral, e perderam o acanhamento e o receio. Confiantes e naturais, mostraram-se como são, na intimidade.
Deixei-me ficar. Deixei-os em paz.
Parado, cabeça ao sol e o corpo dentro do aquário natural, deixei-me embeber de gozo, enamorado de tudo, confundindo-me com tudo, amando o Todo.
Se pudesse, teria mesmo virado pedra. Para servir de universo aos peixinhos, caramujos, camarões... a todas aquelas formas assumidas pela Vida Universal.(...)
Krishna, Sai Baba, Buda, Samkara, Jesus, Babaji, Rama, São Francisco de Assis, São João da Cruz, Ramana, Ramakrishna, Santa Tereza, Yogananda, Chico Xavier... vós todos – doidos de Deus – contaminai-me com a mesma loucura!
Vós todos – bêbados do Senhor – dai-me do mesmo vinho que vos pôs assim!
Vós – saciados da Divindade – dai-me da hóstia que vos alimenta!
Perdidos no Mar Infinito – tornai-me também um náufrago convosco!"
Prof. Hermógenes em Mergulho na Paz
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