quinta-feira, 8 de setembro de 2011

BLAVATSKY - A VOZ DO SILENCIO

Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao
Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito
do escultor.
Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se.
E então ao ouvido interior falará
A Voz do Silêncio
e dirá:
Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da
sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro do seu castelo de
ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre (4);
sabe, ó discípulo, que a tua Alma é da terra.
Quando ao tumulto do mundo a tua Alma (5) que desabrocha dá ouvidos; quando à
voz clamorosa da grande ilusão (6) a tua Alma responde; quando se assusta ao ver
as lágrimas quentes da dor, quando a ensurdecem os gemidos da angústia,
quando a Alma se retira, como a tartaruga tímida, para dentro da concha da
personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu Deus silencioso a tua Alma é um
sacrário indigno.
Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu retiro seguro; quando,
deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata e avança; quando, ao
contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura, “Isto sou eu” -
declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da ilusão (7).
Esta terra, discípulo, é a sala da tristeza, onde existem, pelo caminho das duras
provações, armadilhas para prender o teu Eu na ilusão chamada “a grande
heresia” (8).
Esta terra, ó discípulo ignaro, não é senão a triste entrada para aquele crepúsculo
que precede o vale da verdadeira luz - essa luz que nenhum vento pode apagar, e
que arde sem óleo nem pavio.
Diz a grande Lei: “Para te tornares o conhecedor da Personalidade Total (9), tens
primeiro de conhecer a Personalidade”. Para chegares ao conhecimento dessa
Personalidade, tens de abandonar a personalidade à não-personalidade, o ser ao
não-ser, e poderás então repousar entre as asas da Grande Ave. Sim, suave é o
descanso entre as asas daquilo que não nasce, nem morre, mas é o AUM (10)
através de eras eternas (11).
Cavalga a Ave da Vida, se queres saber (12).
Abandona a tua vida, se queres viver (13).
Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos trabalhos. Três salas, ó
conquistador de Mara, te trarão através de três estados (14) até ao quarto (15), e
daí até aos sete mundos (16), os mundos do descanso eterno.
Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.
O nome da primeira sala é Ignorância - Avidya. É a sala em que viste a luz, em que
vives e hás de morrer (17).
O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem (18). Nela a tua Alma
encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada
(19).
O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual se estende o mar sem
praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência (20) .
Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os
fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da vida.
Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares a aspirar o perfume das
suas flores embriagantes. Se queres ver-te livre das peias cármicas, não procures
o teu Guru nessas regiões mayávicas.
Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos sentidos.
Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.
Procura aquele, que te dará o ser (21), na Sala da Sabedoria, a sala que está para
além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha
como uma glória imorredoura.
Aquilo que é incriado está dentro de ti, discípulo, assim como está naquela sala. Se
queres possuí-lo, e unir as duas coisas, tens de despir os teus negros trajes de
ilusão. Abafa a voz da carne, não deixes que qualquer imagem dos sentidos se
entreponha entre a sua luz e a tua, para que assim as duas se fundam em uma. E,
tendo aprendido a tua Ajnana (22), abandona a Sala da Aprendizagem. Essa sala é
perigosa pela sua beleza pérfida, e só é precisa para a tua provação. Acautela-te
Lanu, não vá a tua Alma, entontecida pelo brilho ilusório, demorar-se e enredar-se
na sua luz enganadora.
Esta luz brilha na jóia do grande enganador (Mara) (23). Enfeitiça os sentidos,
cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e sozinho.
A borboleta atraída para a chama da tua lâmpada noturna está condenada a ficar
morta no azeite. A alma incauta, que não pode defrontar-se com o demônio
escarninho da ilusão, voltará ao mundo escrava de Mara.
Olha as hostes das Almas. Vê como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida
humana, e como, exaustas, sangrando, de asas quebradas, caem, uma após outra,
nas ondas encapeladas. Batidas pelos ventos ferozes, perseguidas pelos
vendavais, são arrastadas para os sorvedouros e somem-se pelo primeiro grande
vértice que encontram.
Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha,
discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta
dos outros.
Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe, engolfando-se no mar de
Maya (24), do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder de Fogo (25) se retire para
a câmara interior, a câmara do coração (26), e o domicílio da Mãe do Mundo (27).
Então do coração esse poder subirá até à sexta região, à região média, ao lugar
entre os teus olhos, quando se toma a respiração da Alma-Única, a voz que enche
tudo, a voz do seu Mestre.
É só então que te podes tornar um “que anda nos céus” (28), que pisa os ventos
por cima das ondas, cujo passo não toca nas águas.
Antes que ponhas o pé sobre o degrau superior da escada, da escada dos sons
místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do teu Deus interior (29).
A primeira é como a voz suave do rouxinol cantando à sua companheira uma
canção de despedida.
A segunda vem como o som de um címbalo de prata dos Dhyanis, acordando as estrelas
lucilantes.
A terceira é como o lamento melodioso de um espírito do oceano prisioneiro na
sua concha.
E a esta segue-se o canto da vina (30).
A quinta, como o som de uma flauta de bambu, grita aos teus ouvidos.
Muda depois para um clamor de trompa.
A última vibra como o rumor surdo de uma nuvem de trovoada.
A sétima absorve todos os outros sons. Eles morrem, e não tornam a ouvir-se.
Quando os seis (31) estão mortos e postos aos pés do mestre, então se entrega o
aluno no Único (32), se torna esse Único e nele vive.

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