domingo, 20 de novembro de 2011

Oração do perdão - O Aleph (Paulo Coelho)


''- Lembre-se do Aleph. Lembre-se do que sentiu naquele momento. Palavras, explicações e perguntas não vão servir para nada, apenas para confundir mais o que é já é bastante complexo. Simplesmente me perdoe.


- Não sei porque preciso perdoar o homem que amo.

Hilal procura inspirações na parede dourada, nas colunas, nas pessoas que estão entrando aquela hora da manhã, nas chamas das velas acesas.


- A menina perdoa. Não porque virou santa, mas porque já não aguenta mais carregar este ódio. Odiar cansa.


Não, não era aquilo que eu esperava.


- Perdoe tudo e todos, mas me perdoe - peço. Inclua-me no seu perdão.


- Eu perdoo tudo e todos, inclusive você. Perdoo porque eu amo você e porque você não me ama. Perdoo porque você me rejeita e o meu poder se perde.


Ela fecha os olhos e levanta as mãos para o teto.


- Eu me liberto do ódio por meio do perdão e do amor. Entendo que o sofrimento, quando não pode ser evitado, está aqui para me fazer avançar em direção a glória.


Hilal fala baixo, mas a acústica da igreja é tão perfeita que tudo p que diz parece ecoar pelos quatro cantos. Ela está em transe mediúnico.


- As lágrimas que me fizeram verter, eu perdoo.

As dores e as decpções, eu perdoo.

As traições e mentiras, eu perdoo.

As calúnias e as intrigas, eu perdoo.

O ódio e a perseguição, eu perdoo.

Os golpes que me feriram, eu perdoo.

Os sonhos destruídos, eu perdoo.

As esperanças mortas, eu perdoo.

O desamor e o ciúme, eu perdoo.

A indiferença e má vontade, eu perdoo.

A injustiça em nome da justiça, eu perdoo.

A cólera e os maus-tratos, eu perdoo.

A negligência e o esquecimento, eu perdoo.

O mundo, com todo o seu mal, eu perdoo.


Ela abaixa os braços, abre os olhos e coloca as mãos no rosto. Eu me aproximo para abraçá-la, mas ela faz um sinal com as mãos.


- Não terminei ainda.


Torna a fechar os olhos e olhar para cima.


- Eu perdoo também a mim mesma. Que os infortúnios do passado não sejam mais um peso em meu coração. No lugar da mágoa e do ressentimento, coloco a compreensão e o entendimento. No lugar da revolta, coloco a música que sai do meu violino. No lugar da dor, coloco o esquecimento. No lugar da Vingança, coloco a vitória.

Serei naturalmente capaz de amar acima de todo desamor,

Do doar mesmo despossuída de tudo,

De trabalhar alegremente mesmo que em meio a todos os impedimentos,

De estender a mão ainda que em mais completa solidão e abandono,

De secar lágrimas mesmo que aos prantos,
 :
De acreditar mesmo desacreditada.


Ela abre os olhos, coloca as mãos na minha cabeça e diz com toda a autoridade que vem do Alto:


- Assim seja. Assim será.''

Fonte : http://deboraferreirasil.blogspot.com/2011/04/oracao-do-perdao-o-aleph-paulo-coelho.html

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