quinta-feira, 7 de julho de 2011

SOLITUDE – SOLIDÃO...








Qual a diferença entre se encontrar só, solitude e solidão? E será que nos encontramos realmente sós, quando assim pensamos e sentimos a dor da solidão?

Consideremos três aspectos da solidão:


1º - A solidão sofrida, que nos arrasta às dores da alma, que nos implora estarmos em convivência com alguém, que, do fundo de nosso ser nos solicita a interação com outras pessoas e que nos faz sentir desamparados pela ilha que nos tornamos ou estamos passando.

2º - A solidão altamente benéfica, cultivada, construtiva, ressignificativa - de efeitos altamente positivos para a nossa psiqué - onde assim podemos nos presentear com um merecido tempo só para nós. Um tempo onde podemos fazer e ter o prazer em atividades por mais simples que sejam; nos acalmar, descansar, ler, refletir, nos redirecionar, nos reposicionar perante nós mesmos, onde assim podemos nos entender melhor; onde pelo fato de estarmos fisicamente sós temos a chance de poder mergulhar mais fundo em nós mesmos, nos redescobrir e assim encontrar soluções, satisfação – e a felicidade – de podermos crescer, nos lapidar, quando por um tempo imprescindível podemos nos examinar, nos endireitar perante nossa consciência.

3º - A solidão meditativa. O estar só sem contudo nos sentirmos sozinhos. A solidão que, partindo do espaço que se abre ao nosso autoconhecimento nos permite conviver com a essência divina e humana do que somos, a solidão assim que nos faz caminhar mais perto de Deus, quando, em recolhimento, nos entregamos à prática do estudo, da oração, da reflexão, do estar em paz na profundidade de nosso silencio.


A solidão sofrida que nos empurra ao sofrimento, na realidade representa o profundo anseio de nossa alma por sairmos um pouco do ensimesmamento e nos convida a expandir e abrir as comportas de nosso pequeno ego que de nós exige sempre a convivência.

Na solidão sofrida precisamos olhar para dentro de nós mesmos e indagar o que está impedindo de nos relacionar: Preocupações? Dependência? Orgulho? Vaidade? Inveja? Excesso de auto-importancia? Autocomiseração? Medo de tentar? Falta da riqueza libertadora do perdão? Desmerecimento? “Falta de tempo?” Idéias fixas como preconceitos? Nos considerarmos superiores ou inferiores a alguém? Carência de autoconfiança? O que será, precisamos com honestidade conosco mesmos – e isto é importantíssimo na vida -  nos perguntar. Seja com um amigo (a), seja com nossos entes queridos, seja com alguém que conhecemos ou que podemos vir a conhecer.

Qual será assim a atitude que me está impedindo de ligar para alguém, de dizer “Eu te amo!”, passar um email, convidar alguém, ir ao encontro das pessoas, freqüentar uma academia, um curso, uma palestra, um evento, uma atividade caridosa, ir a uma festa ou seresta, seja mesmo que apenas dar uma volta pela cidade para que possamos ver nossos semelhantes? Ou conversar com o vendedor de picolé? O que me impede? Será que posso perder alguma coisa com isso?

Mas e se for a autocomiseração?: Estou eu assumindo o papel de vítima das situações ou dos acontecimentos, do que me fizeram, da sensação de impotência perante minha interação com as pessoas que julgo e classifico, que as vejo com lentes de meus exigentes critérios? Preciso encontrar as pessoas perfeitas ou carregadas de virtudes e mínimos defeitos, sendo que eu mesmo ainda não alcancei esse patamar?

Veja esta frase do Jean Paul Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com o que fizeram com você.” E você sempre pode fazer o melhor para alcançar a nobreza da auto-superação e enriquecer seus créditos consigo mesmo e com a Vida.  Pois dia virá em que irás colher tudo o que plantastes aqui. E nesse dia verás que “tudo o que fizestes aos outros, na realidade é a você mesmo que fizestes.”

A solidão sofrida pode nos trazer desalento ou depressão, quando nos deixamos sucumbir pelo desânimo e assim, temporariamente, nos sentir abandonados à nossa própria sorte. Porque alguém me deixou. Meu casamento acabou. Meus planos foram por água abaixo. Porque alguém me magoou e porque não consegui perdoar e me autoperdoar. Porque estou profundamente chocado e perdido, quando alguém que me foi tão caro passou para o outro lado da vida. Cumpriu a sua missão e Deus o chamou. Pela saudade que essa “perda” representa. Na realidade essa “perda” nos faz sentir uma dor imensurável, uma solidão infinita que não se pode compartilhar. Que só nós sabemos o que estamos sentindo. Mas que no fundo sabemos que estamos chorando mais por nós mesmos, pelo apego que tivemos, quiçá por aquilo que fizemos ou não fizemos, pela sensação de estarmos completamente sós em nossa lancinante dor. E assim, mesmo sabendo que o tempo cura nossas mazelas, não percebemos sequer o tempo passar... Parece-nos que tudo estacionou. E que um grande vazio veio e ficou.

O que fazer para acabar ou então minorar esse sentimento sofrido onde nos imergimos na fragilidade de nossos sentimentos que clamam por compartilhar com alguém, com Deus, com nossos orientadores e protetores da espiritualidade, que, sabemos, também como nosso Pai-Mãe celestial, nunca nos abandonam?

Há algum caminho e rota infalível para sairmos dessa baixa de auto-estima que nos assola as fímbrias de nosso coração? E até quando permitiremos que a solidão a dois, a três, a mil... possa continuar nos ferindo o coração? Com certeza não é isto que queremos para nossa vida! É importante entrarmos em contato com nossa solidão. Com nossa mágoa ou nossa tristeza. Permitir que venham, que olhemos para ela, que possamos saber como suprimi-la, administrá-la ou conviver com ela.

Como fazer para alquimizar em nós a solidão sofrida na mais profícua solidão elevada, trabalhada, consoladora, meditativa, portanto em solitude?

Não, não há receitas fixas, infalíveis, não há conduta uniforme para todos. Esse caminho não lhe podemos apontar. Compete a você o encontrar. Mas sabemos que o nosso aconchego em um ombro amigo e no sorriso que podemos compartilhar, ou nas pessoas que podemos ajudar, e no comportamento solidário, quando nosso chamado interno nos pede para estar mais perto de Deus e mais perto de quem amamos, representam o maior lenitivo para nossa alma sedenta de amparo, ansiosa por alegria, desejosa de realizações. E que nos dá um pouco mais de felicidade e nos reconduz ao sentido maior da vida. O sentido da vida que é a própria vida e sua dinâmica sábia e surpreendedoramente nova e rica em possibilidades. Quando o tempo, o inesperado, as surpresas, o devir e as novas configurações da realidade sempre mutante nos oferecem outras esperanças, panoramas e recursos, diferentes ferramentas para utilizar, para trabalhar e seguir mais reconfortados no caminhar de nossa missão na vida.

Mas, fundamentalmente, necessário é nos esforçar para abrir os olhos, abrir nosso coração e mente para além de nossos pré-conceitos e cristalizações. Para além das classificações com que olhamos as pessoas. Nos abrir para o sempre novo. Para a Fé. Porque a vida é sempre nova e as oportunidades estão aí. E que assim, renovados em nossos pensamentos e sentimentos podemos viver com maior intensidade dentro do poderoso portal que a sabedoria e o amor de Deus têm para nós reservado como acesso de entrada para o maior paraíso e realização humana: O portal da vivencia intensa e milimétrica do dia de hoje, o viver absolutamente dentro do Aqui e do Agora.

Na solidão benéfica e na solidão meditativa se configura o que se chama de solitude, ou seja, aquele espaço e aquele tempo em que a solidão é tão necessária a nós como o oxigênio que precisamos para viver.

Teorizar sobre a solidão humana pode ser fácil. Senti-la e vivenciá-la como a podemos transformar em um tempo útil, amoroso e benéfico para nós mesmos requer de nós coragem, a força de alma e a conscientização de que, em nada sendo ou acontecendo por mero acaso,  está a vida nos oferecendo ricas chances!  Para nos preparar para a alegria genuína de nos sabermos prenhes de mil oportunidades de progresso e auto-superação. Mas que somente a nós cabe mudar o rumo de nosso destino. E que o caminho mais profícuo em nosso bom combate se encontra como inestimável tesouro exatamente dentro de nós mesmos.

É quando a solitude benéfica nos conduz à solidão meditativa.  Quando percebemos em nós a necessidade de nos conhecer melhor. Quando assim, pelos caminhos e peculiares meandros da meditação passamos, agora mais do que em nossas prévias convicções, a descobrir horizontes e possibilidades nunca antes imaginadas dentro de nosso ser. Nosso ser que precisa ser trabalhado em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual. E cujas diretrizes as vamos encontrando quando mergulhamos para além de nossos pensamentos, sentimentos e práticas espirituais isentas de qualquer limitação religiosa ou dogmática.

O primeiro passo para alcançarmos, pois, níveis de consciência superiores das nossas próprias dimensões de realidade, é relaxarmos. Encontrarmos a paz que existe quando podemos acalmar nossos pensamentos e emoções. Segue agora, irmão, irmã, uma sugestão para a solitude de um relax-meditativo.

Vá a um canto tranqüilo, sente-se ou deite-se, feche os olhos e procure olhar para o seu corpo. Faça três inspirações profundas. Segure um pouco. Expire deliciosamente. Vá paulatinamente relaxando cada parte dele. Relaxe seus pés. Relaxe suas pernas. Relaxe sua pélvis. Relaxe seu estômago. Relaxe suas costas (Você pode imaginar suas vértebras espalhando-se gostosamente) Relaxe sua nuca, seu pescoço. Relaxe seus lábios. Relaxe os músculos de sua face, como um sorriso. Relaxe sua cabeça, seus olhos, seu couro cabeludo. Olhe para seu corpo: Relaxe seus músculos e onde perceber qualquer área sob tensão.

Você, ao sentir o seu corpo e tomar consciência dele, estará presentificando-se e tomando mais consciência de seu corpo físico que é a base da pirâmide que sustenta todo o seu ser emocional, mental e espiritual. Neste ponto de seu relax, pense e sinta algo positivo, elevado: Em Deus. No Amor. Na paz. Na harmonia... E ao sentir essas vibrações, emane essa paz, esse amor, para todo o seu ambiente e para as pessoas em seu redor ou que fazem parte de sua vida e que nesse momento freqüentam seus pensamentos.

Agora, comece a observar seus sentimentos. Transmute-os para energias positivas. Mas aceite e assuma o que vier, sejam positivos ou negativos. Reflita, trabalhe-os.

Observe agora os seus pensamentos. Você não é os seus pensamentos. Deixe-os passar por sua mente como passam as nuvens. Apenas os observe chegar e ir-se embora. Aqui você os pode mudá-los. Para outros melhores. Para o que for mais edificante para você e sua vida. Os pensamentos podem se estender através de associações com o que lhe é familiar e conhecido. Mas, concentre-se em sua respiração. Apenas na sua inspiração e expiração. Sinta-se completamente. Sinta o pulsar de seu coração, de suas veias. Quanto aos pensamentos, apenas os testemunhe sem identificar-se com eles. Imagine uma tela em branco. Inspire e expire profundamente. Reabra seus olhos, e, lentamente, retome a posse ativa de seu corpo, de suas emoções e pensamentos para a prática de suas ações.

Veja como o novo sempre está a aparecer no devir do rio de sua vida. E você pode e deve implantar no seu dia um momento para si mesmo. O momento de sua sagrada solitude. O momento do relax. Ou se for necessário, o momento de alguns relaxs por dia. A determinação de autoconhecer-se e elevar-se para além do tumulto do mundo, para além de tensões e preocupações do dia a dia. Nesses momentos, é você consigo mesmo. É um tempo seu.

É um começo, e é sempre um recomeço. É a solidão meditativa que lhe trará com o desenvolver de sua prática novos conhecimentos, novo frescor e uma nova dimensão para o seu viver, para o exercício de suas funções e atividades cotidianas dentro da paz que vai se instalando em você. Quando assim irás perceber que todo o seu fazer cotidiano se apresenta tal qual uma meditação.

E nesse estado de solidão- meditativa, irás percebendo a tua ligação e unicidade com o mundo e os seres que participam de tua vida. Conhecer-te-ás melhor. Sentir-te-ás mais integrado e feliz. E com o tempo, reconhecer-te-ás refletido, como um espelho, em todas as pessoas. E passarás a senti-las em ti. Como parte de ti.

 Irradie pensamentos carinhosos para todos aqueles que vêem freqüentar teu pensamento. E nesse estado elevado, nesta tão benfazeja solitude verás que não estais realmente só. Que nunca tivestes mesmo só. Que teus pensamentos, sentimentos e ações, por mínimas que sejam refletem no todo e que vão e vêm no Universo que te dá o feedback de energias de auto-aperfeiçoamento.

E que assim terás a necessidade de cultivar tua solidão. De transformá-la de solidão sofrida para a solidão benéfica. E que, ao utilizares mais tempo para ti, podes te encaminhar para a solidão que agora é solitude. E que de outra forma irás encontrar agora as pessoas, no momento certo, no momento que escolheres, quando é fundamental que possas criar, você mesmo, oportunidades para ti. Para entreteceres a interação e a irmandade no fraternal relacionar com as pessoas e o mundo.

Quando assim, pelo autoconhecer-se e pela diversificação de teus hábitos e tuas ações, determinando-te a encetar a prestação de serviços com amor discernido e desinteressado para todos, para a glória da vida e de teu crescimento pessoal, daqui em diante não te sentirás mais só. E perceberás, maravilhado (a), que o imperativo de suas atividades em solitude te recompensará com a felicidade do encontro com teu Eu Sublime, Eterno e Verdadeiro e na descoberta então de mil possibilidades jamais sonhadas da tua dimensão superior enquanto Ser, reconduzindo-te e trazendo-te a bem-aventurança de encontrar e reencontrar com todos e com Deus. Deus que habita dentro e fora de você e que te faz – e que te irás reconhecer – co-criador da própria realidade da vida e do cosmos, quando, na solidão meditativa sentir-te-á Feliz. Na felicidade da solidão-toda-acompanhada, não mais sofrida, porém sadiamente compartilhada com todos aqueles que de ti se acercam, e que de ti aguardam teu sorriso de empatia e simpatia, na sintonia alegre com eles e na vivência da solitude sincrônica dentro da solidão bela e infinita de quem se vê Um com tudo e com todos os seres.

E assim, querido (a), imerso e atuante no amor pelos teus. Sempre em espírito de colaboração. Por tua família. Pela família humana sem limitações. Pelo ser em cada pessoa. Pelo percebimento delas em ti. Na solidão, que, quando sofrida e sentida, podes transmudar em jóias de autoconhecimento, portanto em ricas oportunidades de te encontrares feliz e pleno contigo mesmo, com o teu próximo e com Deus.


Ivanildo Falcão da Gama

emamoreluz@gmail.com
www.supraconsciencia.blogspot.com
Autor do livro: “SER LUZ!”



Para refletirmos...:

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