terça-feira, 9 de agosto de 2011

Como se libertar de um vício ou desejo Por Emilce Shrividya



O desejo é um dos venenos da mente e cria energias negativas tirando nossa paz e equilíbrio. Desejar significa querer algo, pessoas, coisas, acontecimentos e experiências. Mas significa também falta de algo. Este sentido de faltar algo é que conduz ao desejo. Quanto mais desejamos algo, mais a mente anseia por mais. O desejo é um poço sem fundo.

Em nossa sociedade não há fim para a busca incessante dos desejos. A mente está sempre querendo possuir coisas diferentes. E quando consegue uma delas, o prazer não dura. Logo outro desejo envolve você e você fica insatisfeito porque nunca poderá satisfazer todos eles. Isto gera agitação, raiva, inveja, ganância, inquietude causando sofrimento.

Por causa dos desejos, criamos os apegos, aflições, ansiedades, consumismo exagerado. Onde quer que haja um desejo, com certeza existe outro desejo.

Esses sentimentos de carência, de necessidade de nos completar e os desejos excessivos nos afastam cada vez mais da paz interior criando conflitos internos, dor, angústia e preocupação.
As pessoas acham que são livres para realizar os desejos da mente negativa, mas na verdade são escravas dos sentidos e dos desejos que geram doenças, frustrações e autopunição.

Isso não significa que devemos parar de saborear a vida, de aproveitar uma boa comida, gostar de diversão, de dançar, de fazer compras, gostar de música, cinema, teatro, bom livros. Mas precisamos do discernimento, do equilíbrio interno, do dourado caminho do meio, como diz o Yoga para sermos felizes e não escravos de nossos desejos.

Como lidar com o desejo

O Yoga nos ensina como lidar com o desejo praticando a contemplação e a meditação.
Observar a mente e identificar o que surge na mente é uma das maneiras de diminuir esta agitação constante.

É importante identificar esses venenos da mente, suas conseqüências, e nos conscientizar que podemos optar por uma melhor escolha para ser feliz. Escolher o que é benéfico e não apenas o que é prazeroso momentaneamente, mas que depois gera sofrimentos.

Uma pessoa, por exemplo, que precisa emagrecer fica travando uma luta interior com sua mente positiva e sua mente negativa. Os pensamentos ficam em ebulição ao desejar um doce ou uma comida bem calórica.

A mente positiva relaciona todas as desvantagens de não comer aquele doce ou comida, mas a mente negativa não se convence. O desejo cresce e a pessoa come o doce como se aquele prazer pudesse acalmar seus pensamentos e lhe trazer alegria e alívio da ansiedade. Mas o prazer é momentâneo e dura muito pouco. Logo ela sente culpa, sentimento de fraqueza, baixa-estima, derrota.

Isto se torna um ciclo vicioso e, novamente, os pensamentos recomeçam e a pessoa vai comer outro doce, outro pedaço de bolo, outra comida gordurosa...E assim é também com um copo de bebida, com o cigarro, com o desejo de possuir coisas, de comprar...

Como diz o Yoga, são prazeres que parecem néctar, mas que depois se tornam venenos porque tiram nossa saúde e tranqüilidade.

Às vezes esses desejos são padrões mentais muito fortes, muito enraizados dentro das pessoas e criam comportamentos repetitivos, compulsivos e vícios. Elas se sentem fracas e acham que o negativo tem mais poder e sempre vence. Não têm consciência que isto acontece apenas porque elas têm repetido, com insistência, os mesmos pensamentos que geram emoções e sentimentos negativos.

Para esses desejos fortes e destrutivos precisam se apoiar em Deus, pedir a ajuda Dele, lembrar-se Dele. Conversar com Deus com palavras que brotam do coração, fazer amizade com Ele através da meditação, do relaxamento, do canto dos mantras, dos pensamentos positivos que fortalecem a fé.
E neste processo de autocura é também muito importante conscientizar-se do que se obtém realizando esse ou aquele desejo destrutivo. A análise, com a luz da inteligência, traz o discernimento e a conscientização que libertam.

Ao ficarmos mais presentes e conscientes de nossas ações, não somos movidos por impulsos, compulsões, atrações e aversões. Libertamos-nos também das conseqüências dos desejos, como dívidas, gastos com compras desnecessárias, ansiedade por não ser bem sucedido, raiva pelos desejos insatisfeitos, e a dor dos apegos pelas coisas e pessoas.

Por exemplo, cada vez que fumar um cigarro ou beber mais um gole de bebida, fazê-lo conscientemente, lembrando-se de todos os males que está causando ao seu corpo, à sua saúde, à sua mente, ao seu equilíbrio.

Como disse Rajneesh: "Se és capaz de observar o ato de fumar, chegará o dia em que o cigarro cairá de teus dedos, porque o absurdo do fumar te será revelado. É algo simplesmente estúpido, idiota. Quando compreenderes isso, o cigarro, simplesmente cairá de teus dedos.... Vigia, sê alerta, consciente, e alcançarás um fenômeno muito milagroso: isso não deixa traços em ti".

Em seu livro A arte da Felicidade, Dalai Lama diz que o verdadeiro antídoto para a ganância e os desejos inquietantes é o contentamento. E este contentamento interior consiste em querer e apreciar o que temos e não em ter o que queremos.

É importante purificar nossos desejos e cultivar desejos positivos. Aspirar por valores interiores como o desejo pela paz, o desejo pela tranqüilidade da mente, pela felicidade no lar, por um mundo com mais harmonia.

É essencial estar cada vez mais à vontade, estar cada vez mais aqui e agora, gostar de você, ser feliz com você mesmo, celebrar a vida, aspirando pela paz interior que surge da mente pacífica e serena. Om Shantih! Fique em paz!

Notas bibliográficas: Anantanda,Swami- What's om my mind? - Ed. Syda Foundation.

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