Posted: 2011-06-02 14:27:07 UTC
O CASAMENTO SOBREVIVERÁ? REVISTA ÉPOCA - Edição 137 01/01/2001
Suas transformações não representam o desejo de descartá-la como
tal, mas, ao contrário, o de fazer com que se torne ainda eficaz.
Afinal, o modelo antigo de família
– cuja função é procriar e ser núcleo segregado de solidariedade – parece não estar dando conta de seu histórico papel
de ajudar o ser humano a sobreviver.
O século XXI traz o inédito desafio de um mandamento cultural na contramão daquele vivido pela primeira família:
“Crescei pouco e não multiplicai”.
Isso é vivenciado não só na esfera intelectual de um mundo densamente populoso e com graves problemas de fadiga, mas principalmente pela expressão econômica que essa realidade gera.
A competitividade e o aumento do custo relativo em todos os níveis para ter filhos estão alterando profundamente a família.
Não é difícil perceber essa realidade biológica ou essa lógica da vida em nosso dia-a-dia.
O casamento tardio, as famílias alternativas (das chamadas “produções independentes” às relações homossexuais), os vários casamentos (convertidos em formas de namoro) e tantos outros fenômenos são indicativos da perda funcional da família em seu aspecto biológico.
Essa mudança nos fundamentos da família afeta também os papéis culturais dos homens e das mulheres (e não o contrário).
Os homens se vêem num processo reverso ao dos últimos milênios, quando desenvolveram mais que qualquer outra espécie “um investimento paternal” desconhecido na natureza.
Seu papel na sobrevivência dos filhos tornou-se “maternal” à medida que a família o fez indispensável.
O século XXI desenha um homem mais dispensável e traz o desafio de recriar sua função e sua imagem em meio à cultura.
A mulher, por sua vez, busca outra forma de ocupação e valorização que não seja concentrada apenas na maternidade.
Essa projeção da mulher em outros setores da cultura é também uma profunda revolução.
Tudo isso apontaria para o fim da família como a conhecemos.
No entanto, há igualmente forças distintas e poderosas no sentido contrário.
A virtualização das relações, o desenraizamento dos indivíduos e a própria competitividade rendem um valor importante aos laços de família.
É extremamente atual a inveja daqueles que “não têm família” em relação aos que “têm família”.
E o sonho do casamento, não por motivos de formação de família, mas de encontrar estabilidade, está “em alta”.
Acredito que o século XXI seja o início de uma guinada na definição da família e de seus objetivos.
De regra biológica fundamental ela está passando a regra social – a tribo mínima e essencial em tempos de multidão e de solidão.
Seja como for, a família foi indiscutivelmente o mais crucial instrumento de sobrevivência para a espécie humana.
Suas transformações não representam o desejo de descartá-la como
tal, mas, ao contrário, o de fazer com que se torne ainda eficaz.
Afinal, o modelo antigo de família
– cuja função é procriar e ser núcleo segregado de solidariedade – parece não estar dando conta de seu histórico papel
de ajudar o ser humano a sobreviver.
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NILTON BONDER
É Rabino e Escritor - Nascido em Porto Alegre, em 27/12/57.
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