Esta é a história de um palhaço que, quando encarnado, acreditava que através de suas brincadeiras, estórias e palhaçadas poderia ensinar as crianças a serem melhores seres humanos. Porém, diante dos obstáculos da vida moderna, na qual a maioria dos homens voltou-se para os valores do “ter e ganhar” , não sobrou tempo e nem sensibilidade para compreensão da grandeza dos objetivos deste palhaço, pois os homens foram atraídos pelas misérias humanas que se alastravam por todos os lugares, tornando-se tão comuns, que até os faziam rir.
No atendimento do dia 14.04.2011, esse espírito caracterizado de palhaço, veio até nós e relatou sua história.
Chegou fazendo gracinhas com a ficha que trabalhávamos.
Disse que o dono da mesma precisava de orientação porque estava fazendo bobagens. E prescreveu um banho: folhas verdes, manjericão, azeitonas ...
- Ele reclama que não tem ninguém, agora que ele vai ficar sozinho, pois ninguém vai aguentar o mau cheiro. E começou a rir.
Continuou fazendo brincadeiras. Demonstrou que impondo as mãos lia os pensamentos, conhecia os problemas, e então, saia soprando os segredos nos ouvidos atentos.
Contou que certa vez, soprou para uma mulher que seu companheiro a traia; acreditava que era o certo a fazer.
Disse que fazia brincadeiras, mas era correto.
Detectei, junto com a doutrinadora, que ali se escondia um belo e iluminado coração que ansiava pela transformação moral. Ele, porém, negou e disse que a ausência de amor deixou seu coração cinza e empoeirado, e daí modificou o rumo da conversa.
Perguntou se a doutrinadora conhecia a estória do Palhaço e da Piranha. E, sem esperar resposta, começou a narrá-la.
- Um palhaço entrou numa lagoa e uma piranha abocanhou seu tornozelo direito. Ele saiu da lagoa gritando, mas as pessoas que estavam na margem, por vê-lo vestido de palhaço, acreditavam que a situação fazia parte de um espetáculo e nada fizeram para ajudá-lo. Somente riam. O palhaço pedia socorro e gritava que era uma piranha de verdade.
E neste momento, dirigiu-se à doutrinadora julgando que a mesma havia tido “pensamentos errados” quanto ao fato que contava.
Em seguida continuou:
- Um menino que também observava utilizou do porrete que trazia nas mãos e bateu na piranha que saltou da perna, caindo de boca aberta no chão. A senhora que estava com o menino tratou do ferimento, aplicando unguento. Os outros que assistiam, os risos mantinham.
Muitas vezes o nosso amigo falou em versos.
Desejava, também, me fazer dramatizar cada situação narrada, mas mantive-me no controle, permitindo apenas pequenos gestos para cada evento que se apresentava em minha tela mental.
Por fim, questionou: - Sabe qual é a lição desta estória?
E novamente, sem esperar resposta, respondeu:
- É que as pessoas não se importam umas com as outras. Riem da miséria alheia. Nem perceberam que se tratava de um acidente de verdade, simplesmente riram.
Então falou da dificuldade que um palhaço tem em desenvolver seu trabalho. Afirmou, desgostoso, que “ nos dias de hoje é preciso que o palhaço caia com a cara no chão para fazer a alegria brotar do coração”.
A doutrinadora, pressentindo que se tratava de um profissional do riso, questionou se este era seu tipo de trabalho. Ele negou, e começou a contar a história de um palhaço que queria contar estórias que ensinassem boas coisas para as crianças. Mas era considerado desinteressante, pois só as misérias humanas interessavam aos homens.
O palhaço ficou triste e resolveu dormir para sempre.
Acordou em um lugar escuro e enlameado, e pensou que havia, finalmente, encontrado um lugar que necessitava de seus serviços, pois ali precisava-se de alegria. Não sabia ele que se tratava zona umbralina densa.
Sua responsabilidade pelo suicídio o havia levado àquele lugar. E começou a fazer suas palhaçadas suaves, mas nada fez efeito.
Os que passavam, estavam tão voltados para seus problemas e aflições que não foram tocados por sua alegria. Andavam de um lado para o outro, gritando, chorando e gemendo.
O palhaço, então, se deixou contaminar pela tristeza, e se envolver pela energia pesada daquele lugar. Foi quando ouviu uma risada e se voltou para o horizonte.
Avistou um ponto de luz que se ampliava a medida que ele se aproximava e a cada passo que dava, enchia-se de esperança para sair daquele lugar. Foi, portanto, aumentando sua vibração, que permitiu a sua saída.
Percebeu que chegara a um lugar diferente do ambiente de onde vinha, pois havia luz.
As pessoas, embora apressadas, pareciam propícias ao riso e, acreditando que poderia encantá-las, iniciou suas brincadeiras.
Mas não conseguia ser visto pelos encarnados e foi ficando aflito, tornando suas energias compatíveis a alguns seres que passavam. Então, percebeu que, embora, não pudessem vê-lo, reagiam às suas palhaçadas (pela sintonia).
E por ali ficou, por algum tempo. Seu coração foi se fortalecendo e ele sentiu-se melhor, porém o que havia conquistado tornou-se pouco. Precisava de algo mais. Queria voltar a seu antigo projeto: ensinar as crianças a serem melhores.
O palhaço novamente ficou triste e voltou a dormir.
Agora estava numa sala, sendo ouvido, contando sua história de vida.
O que faria agora?
A doutrinadora quis lhe oferecer um lugar na nova vida que, agora, finalmente, poderia desabrochar: ensinar às crianças. Mas o palhaço, ainda desanimado, recusou. Disse que não teria o que fazer.
Retomou a fala que nos tempos atuais, o que faz rir “é a cara do palhaço caída no chão”.
– Mas, se cair no chão vai... Dizia a doutrinadora quando foi interrompida e teve a frase completada pelo palhaço. - Vai quebrar.
E reforçou sua fala adicionando: - O que faz ri é a cara do palhaço quebrada no chão, e calou-se.
A doutrinadora retomou a fala, tentava estimular o amigo sofrido e decepcionado.
Todavia, neste momento, o palhaço não conseguia falar.
Encontrava-se, agora, num lindo e imenso jardim.
Crianças chegavam de todos os lados. Eram inúmeras. Vinham alegres, cantando, sorrindo, comemorando a chegada do grande amigo da alegria. Rodearam o palhaço, que emocionado, se deixou cair nos braços da esperança.
Diluiu os pensamentos de que “no mundo não há mais lugar para um palhaço brincalhão que só deseja do ato de contar historias a transformação dos pequeninos que moram em seu coração”.
Rendendo-se ao convite da felicidade, mergulhou, novamente, na missão de fazer rir. Lançou-se ao chão, deu cambalhotas, contou estórias, e fez palhaçadas para o público que ele tanto esperava.
Muitas vezes durante a vida nos deparamos com obstáculos que dificultam a nossa caminhada.
Infelizmente alguns desistem da vida como o nosso amigo palhaço. Muitos são barrados pelos obstáculos, e acabam por escolher um caminho menos luminoso que o proposto anteriormente. Porém outros, agarram-se na fé e seguem adiante, superando os obstáculos que vão surgindo pelo caminho.
Um amigo espiritual sempre me afirma que “ Deus fornece as possibilidades para vencer os obstáculos, dependendo de nós o ato de querer vencê-los”.
A história deste querido amigo nos ensina que não devemos desistir.
Devemos ser perseverantes na realização de boas ações, pois quando há trabalhador, o trabalho aparece.
Andréa
Reunião Mediúnica da CACEF, 14.04.2011
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