quarta-feira, 18 de maio de 2011

O gato feio




Todos no prédio de apartamentos onde eu morava sabiam quem era o Feio. 

Feio era o gato vira-lata do bairro.

Feio adorava três coisas neste mundo: brigas, comer lixo e digamos amor. As combinações destas três coisas adicionadas a uma vida nas ruas tinham causado danos em Feio.

Para começar, ele só tinha um olho, e no lugar onde deveria estar o outro olho, havia um buraco fundo.
Ele também havia perdido a orelha do mesmo lado, e seu pé esquerdo parecia ter sido quebrado gravemente no passado, e o osso curara num ângulo estranho, fazendo com que ele sempre parecesse estar virando a esquina. Feio havia perdido a cauda há muito tempo, e restava apenas um toco de cauda grosso, que ele sempre girava e torcia.

Todos que viam Feio tinham a mesma reação: 

“Mas que gato feio!” •
As crianças eram alertadas para não tocarem nele. Os adultos atiravam pedras nele, jogavam-lhe água com a mangueira para espantá-lo, o enxotavam quando ele tentava entrar em suas casas, ou imprensavam suas patas na porta quando ele insistia em entrar.


Sempre que via crianças, ele surgia correndo, miando desesperadamente e esfregando a cabeça em todas as mãos, implorando por amor.

Quando eu o apanhava no colo, ele imediatamente começava a sugar minha blusa, orelhas, ou o que encontrasse pela frente.

Um dia Feio quis dividir seu amor com os huskies do vizinho. Eles não eram amistosos e Feio foi ferido gravemente.Do meu apartamento, eu ouvi seus gritos e corri para tentar ajudá-lo.
Na hora em que cheguei onde ele estava caído, parecia que a triste vida de Feio estava se esvaindo...

Feio estava caído em uma poça, suas pernas traseiras e suas costas estavam totalmente disformes, um corte fundo na listra branca de pêlo atravessava seu peito.
Quando eu o apanhei e tentei levá-lo para casa, ele fungava e engasgava, podia senti-lo lutando para respirar.
" Acho que o estou machucando muito", eu pensei. Então eu senti a sensação familiar de Feio chupando minha orelha - em meio a tamanha dor, sofrendo e obviamente morrendo, Feio estava tentando sugar minha orelha. Eu o puxei para perto de mim e ele esfregou a cabeça na palma de minha mão, olhou-me com seu único olho dourado e começou a ronronar. Mesmo sentindo tanta dor, aquele gatinho feio, cheio de cicatrizes de suas batalhas, estava pedindo um pouco de carinho, talvez alguma comiseração.
Naquele instante, achava que Feio era o gato mais Lindo e adorável que eu já tinha visto. Em nenhum momento, ele tentou me arranhar ou morder, nem mesmo tentou fugir de mim, ou rebelou-se de alguma maneira. Feio apenas olhava para mim, confiando completamente que eu aliviaria sua dor.
Feio morreu em meus braços antes que eu entrasse em meu apartamento.
Eu me sentei e fiquei abraçada com ele por muito tempo, pensando sobre como este gato vira-lata deformado e coberto de cicatrizes havia mudado minha opinião sobre o que significava a genuína pureza de espírito e sobre como amar incondicionalmente. Feio me
ensinara mais sobre doação e compaixão do que qualquer ser humano.

E eu sempre lhe serei grata por isto. Chegara a hora de eu seguir em frente e aprender a amar verdadeira e incondicionalmente.
Chegara a hora de dar meu amor aqueles que me eram caros.

Muitas pessoas querem ser influentes, acumular dinheiro, querem ser bem sucedidas, queridas ou belas.

Quanto à mim eu sempre 
tentarei ser como Feio.

Autor desconhecido.

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