Dora Incontri
Alessandro Cesar Bigheto
“Devendo fundar a era do progresso moral, a nova geração distinguese por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que constitui o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior.”
Allan Kardec
Cabe à Associação Brasileira de Pedagogia Espírita se manifestar oficialmente a respeito do tema crianças índigo, já que se trata de um assunto eminentemente pedagógico. É lamentável que dentro da tradição pedagógica espírita que temos no Brasil, desde Eurípedes Barsanulfo, passando por Anália Franco, Ney Lobo, Herculano Pires e hoje, alcançando foros de movimento nacional, com cidadania acadêmica, apareça em nosso meio um modismo pedagogicamente perigoso como esse das crianças índigo.
Algumas questões são muito graves do ponto de vista pedagógico: em primeiro lugar, é a concepção elitista, eugenista, de classificar os seres humanos, que fere o princípio da igualdade entre todos. Filhos geneticamente
modificados seriam superiores (fisicamente) aos pais e em toda a literatura índigo, a interferência educacional da família parece um estorvo na vida das realezas índigo!
Segundo ponto que nos parece particularmente problemático é justamente a recomendação de uma certa renúncia à função educativa dos pais e responsáveis, já que as crianças índigo já vêm prontas. Aliás, na teoria
original, são anjos extra-terrestres! Ora, sabemos que todos os Espíritos que reencarnam na terra, mesmos o mais evoluídos (que não é o caso desse modelo apresentado por Lee Carrol e Jan Tober e, mais particularmente
por Nancy Ann Tappe, de crianças que matam, que roubam e com tendências viciosas), precisam de um processo educativo.
É claro, que a educação deve ser amorosa, respeitosa da personalidade reencarnante – mas isso vale para toda e qualquer criança, aliás, para todo e qualquer ser humano.
No livro Educando Crianças Índigo, entre outras heresias pedagógicas, que fariam Comenius e Pestalozzi perderem as estribeiras, o autor Egidio Vecchio diz que a criança índigo: “Necessita da parceria de pais e professores que se adaptem à sua condição atípica, em lugar de, como acontece freqüentemente, pretender adaptá-la a uma educação voltada aos que não possuem os mesmos recursos de que os índigo dispõem.” Ou seja, elas são tão diferentes, que todos precisam se adaptar a elas e só elas merecem ou devem ter uma educação nova e diferente.
Desde o século de Comenius, os grandes educadores vêm lutando para promover uma reforma completa no modo de educar, que atinja a
todos os seres humanos indistintamente e não alguns privilegiados, que supostamente sejam melhores que os outros.
Já se imaginou o tamanho da vaidade, da prepotência e do orgulho que esse absurdo educacional vai provocar nessas mentes que estão chegando? Dizer a uma criança que é preciso aceitar “que é um ser diferente dos outros” cria de imediato um abismo nas relações humanas e um soberano desprezo pelo resto da humanidade.
A proposta pode criar monstrinhos que se julguem acima do bem e do mal e que não tenham a mínima noção de convivência igualitária com o próximo.
E pensar que estamos desenvolvendo seriamente uma proposta baseada em Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Kardec, com inspiração nos grandes educadores espíritas brasileiros, e dentro do próprio movimento, ignorando
ostensivamente o esforço de se firmar uma Pedagogia Espírita consistente e atual, escapa-se por esse delírio pedagógico que, se aplicado, tenderá a deformar as personalidades do futuro!
Diretrizes da Pedagogia Espírita:
•Todas as crianças são iguais e todas são deferentes, cada qual trazendo sua bagagem milenar. Não podem ser classificadas em categorias. Cada criança é única.
• As crianças que estão chegando podem ser mais adiantadas que as gerações passadas, mas isso faz parte do processo natural de evolução do ser humano. Esse adiantamento pode ser setorial: em alguns campos específicos, mas não se tratam de espíritos puros, que já realizaram suas potencialidades.
Espíritos inteligentes podem ter graves desajustes emocionais, que precisam ser cuidados.
•Todos os seres humanos precisam de educação. Educação com liberdade, amor, respeito, atividade. Mas ninguém pode se desenvolver na terra sem um processo pedagógico.
• Existe a urgência de uma nova educação, que atenda aos anseios dos espíritos que estão voltando, mais sedentos de aprendizagem, mais questionadores. A Educação tradicional não serve mais no século XXI. Mas esta revolução pedagógica é para todos.
• Toda teoria pedagógica tem de ter respaldo científico, coerência filosófica e parâmetros altamente morais. Lidar com a mente infantil é grave responsabilidade.
• Intuições, revelações e orientações do mundo espiritual para a prática pedagógica devem ser sempre analisadas com muito critério e espírito crítico e os vivos da terra é que têm a responsabilidade de constituir novas propostas pedagógicas.
• A Pedagogia Espírita coloca ênfase no aspecto moral da educação, pois trata-se do maior déficit da humanidade. Precisamos desenvolver as potencialidades divinas do ser humano (de todos os seres humanos).
• A Pedagogia Espírita é necessariamente inclusiva, dirigindo-se a todas as pessoas, de todas as idades, de todas as condições, porque enxerga sempre em todas as criaturas a alma imortal, herdeira da divindade.
Colaboração: Claudia Werdine
claudiawerdine@hotmail.com
fonte http://claudiovelasco.ning.com/profiles/blogs/a-pedagogia-espirita-e-as-crian-as-indigos
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