Ildefonso, o filho de Dona Malvina Chaves, dama profundamente virtuosa e devotada à causa do bem, há quatro longos anos jazia semi-acamado; entretanto, preso à situação difícil, assemelhava-se a um cordeiro. Parecia estimar as preces maternas, consagrava-se à leitura edificante e sabia conversar, respeitoso e gentil, encorajando quem o visitasse.
Contemplando-o, comovidamente, a desvelada mãe inquiria o Médico Divino, ansiosa:
– Senhor, que motivo trouxe meu filho à invalidez? Não te parece doloroso imobilizar a juventude aos dezoito anos? Traze-o, de novo, aos movimentos da vida! Restaura-lhe o equilíbrio, por piedade!
Levanta-o e consagrar-me-ei inteiramente ao teu divino serviço!...
As lágrimas do sublime coração materno sufocavam as palavras na garganta, emocionando os amigos espirituais que a assistiam em silêncio.
No propósito de obter a concessão celeste, a prestativa senhora sacrificava-se através de todas as atividades socorristas.
Visitava moribundos, amparava sofredoras, protegia crianças abandonadas e arriscava a própria saúde e os recursos na caridade operante, conquistando prestigiosos colaboradores no plano invisível.
Em virtude dos inumeros laços de simpatia e reconhecimento, as súplicas da estimada matrona eram agora secundadas por imenso grupo de entidades espirituais, que imploravam diariamente a renovação do destino de Ildefonso. Reclamava-se para ele plena liberdade de movimentação. Esclarecia-se que na hipótese de o enfermo não merecer a graça, o benefício não deveria tardar, mesmo assim, considerando-se os méritos da genitora, mulher admirável na fé e no devotamento.
Tantos rogos se multiplicaram e tantas simpatias se entrelaçaram, que, um dia, a ordem chegou de mais alto, determinado que o jovem fosse reajustado cem por cento.
Os trabalhadores invisíveis, jubilosos, aguardaram ensejo adequado; e quando surgiu um médium notável, no setor da tarefa curativa, a Senhora Chaves foi inspirada a conduzir o filho até ele.
O missionário recebeu-a solícito e declarou-se pronto a contribuir no socorro ao doente, em obediência aos desígnios superiores.
A mãezinha fervorosa observou, no entanto, que aguardava a cura completa, era face da confiança que a orientara até ali.
O servo da saúde humana, cercado de espíritos amorosos e agradecidos, orou, impôs as mãos sobre o hemiplégico e transmitiu, vigorosamente, os fluidos regenerativos dos benfeitores desencarnados.
Em breves dias, o prodígio estava realizado.
Ildefonso recuperou o equilíbrio orgânico, integralmente.
E a genitora, feliz, celebrou a bênção, multiplicando serviços de compaixão fraterna e gestos de elevada renovação espiritual.
Um mês desdobrara os dias consuma, quando Dona Malvina começou a desiludir-se.
Ildefonso, curado, era outro homem. Perdera o amor pelas coisas sagradas. Pronunciava palavrões de minuto a minuto. Convidado à prece, informava, irreverente, que a religião era material de enfermarias e asilos e que não era doente nem velho para ocupar-se de semelhante mister. Inadaptado ao trabalho, fugia à disciplina benéfica. Trocava o dia pela noite, tal a pressa de esfalfar-se em noitadas ruidosas. Parecia vigilante do clube noturno e suas despesas desordenadas não chegavam a termo. Se a mãezinha pedia reconsideração e atitudes, sorria, escarninho, asseverando a intenção de recuperar o tempo que perdera através de espreguiçadeiras, drogas e injeções.
Com dez meses, era um transviado autêntico.
Embriagava-se todas as noites, tornando ao lar nos braços de amigos, e, quando a genitora, impondo-lhe repreensões educativas, se negou a pagar-lhe a centésima conta mais exagerada, Ildefonso falsificou a assinatura de um tio em escandaloso saque de grandes proporções.
A generosa mãe não sabia como solver o enigma do filho rebelde e ingrato.
Queixas surgiam de toda parte. Autoridades e parentes, amigos e desconhecidos traziam reclamações infindáveis.
A abnegada senhora via-se aflita e estonteada, ignorando como reajustar a situação, quando, certa noite, pedindo ao filho ébrio lhe respeitasse os cabelos brancos, foi por ele agredida a pauladas que lhe provocaram angustiosas feridas no coração. Sem palavras de revolta, Dona Malvina, a abençoada intercessora, procurou a câmara íntima, em silêncio, e rogou:
– Médico Divino, compreendo-te agora, os desígnios sábios e justos. Meu filho é também uma ovelha de teu infinito rebanho!... Não permitas, Divino Amigo, que ele se converta num mostro!... Não sei, Senhor, como definir-lhe as necessidades, mas faze-me entender-te as sentenças compassivas e modifica-lhe a rota desventurada!...
Enxugando o pranto copioso, repetiu as palavras evangélicas:
– Sou tua serva... Faça-se em mim, segundo a tua vontade!...
Intensa luminosidade espiritual resplandecia em torno de sua cabeça venerável. Nova benção desceu de mais alto e, com surpresa de todos no dia imediato, Ildefonso acordou paralítico...
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