Esta é a história de uma das mulheres mais castas do planeta. Muitos sábios a mencionam como exemplo da mulher ideal a ser seguido.
Havia um rei chamado Asvapati, que tinha uma filha tão formosa e meiga, que lhe deram o nome de Savitri, que está ligado a uma oração sagrada dos Vedas. Quando era jovem e seguindo os costumes ksatryas, seu pai mandou-lhe escolher seu marido. Savitri aceitou o conselho de seu pai. A carruagem real, acompanhada de uma brilhante escolta e antigos potentados que dela cuidavam, visitou várias cortes vizinhas e outros reinos distantes, sem que nenhum príncipe conseguisse sensibilizar seu coração.
Aconteceu que a comitiva passou por uma ermida localizada em um daqueles bosques da Índia antiga, no qual a caça era proibida, de sorte que os animais que ali viviam tinham perdido todo o medo do homem e até os peixes dos lagos apanhavam com a boca migalhas de pão, que lhes eram dadas com as mãos. Havia milhares de anos que não se matava nenhum ser daquele bosque; os sábios e anciãos desgostosos do mundo lá se retiravam, a fim de viverem em companhia dos cervos e das aves, entregando-se à meditação e aos exercícios espirituais pelo resto de suas vidas.
Nesta época, um rei chamado Dyumatsena, já velho e cego, vencido e destronado por seus inimigos, refugiou-se no bosque fechado com sua esposa rainha e seus filhos, dos quais o mais velho se chamava Satyavan. O rei e sua família ali viviam de forma ascética, em rigorosa penitência.
Na Índia antiga, era costume que todo rei ou príncipe, por mais poderoso que fosse, ao passar pela ermida de um varão sábio e santo retirado do mundo, ali se detivesse para tributar-lhe homenagens; tais eram o respeito e a veneração que os reis prestavam aos yogis erishis.
O mais poderoso monarca da Índia sentia-se honrado, quando podia demonstrar sua descendência de algum yogi ou rishi que tivesse vivido no bosque, alimentando-se de frutas e raízes e coberto de andrajos.
Assim, quando se aproximavam a cavalo de alguma ermida, apeavam muito antes de chegar a ela e andavam a pé até o local onde estava o eremita. Quando viajavam de carruagem ou armados, também desciam e desvencilhavam-se de seus paramentos militares e depois entravam na ermida, pois era costume que ninguém entrasse naqueles retiros ou ashramas sagrados com armamentos militares, mas sim com uma atitude serena, pacífica e humilde.
Fiel ao costume, Savitri entrou na ermida do bosque sagrado e, ao ver Satyavan, filho do rei destronado e eremita, ficou profundamente apaixonada por ele. Antes, ela havia desprezado os príncipes de todas as cortes e unicamente o filho do destronado Dyumatsena havia lhe arrebatado o coração.
Quando a comitiva voltou à corte, o rei Asvapati perguntou à filha:
- Diz-me, Savitri querida, vistes alguém digno de ser teu esposo?
- Sim, pai querido – respondeu Savitri, ruborizada.
- Qual é o nome do príncipe?
- Já não é príncipe, meu pai, porque é filho do rei Dyumatsena, que perdeu o seu reino. Não tem patrimônio e vive como um sannyasino bosque, colhendo ervas e raízes para alimentar-se e manter seus velhos pais, com os quais mora numa cabana.
Ao ouvir o relato dos lábios de sua filha, o rei Asvapati consultou o sábio Narada, que se achava presente. Narada declarou que aquela escolha era o mais funesto presságio que a princesa poderia ter. O rei pediu a Narada que explicasse os motivos de sua declaração e ele respondeu:
- Daqui a um ano este jovem morrerá.
Aterrorizado por este vaticínio, o pai disse à filha:
- Pensa, Savitri, que este jovem que escolhestes morrerá dentro de um ano e ficarás viúva. Desiste da escolha, filha minha; não te cases com um jovem de tão curta vida.
Contudo, Savitri respondeu:
- Não importa, meu pai. Não me peças que me case com outro e sacrifique a castidade da minha mente, porque em meu pensamento e coração, amo o valente e virtuoso Satyavan e o escolhi para esposo. Uma donzela escolhe uma só vez e jamais quebra sua fidelidade.
Ao vê-la tão decidida, o pai resignou-se à vontade de Savitri que, desta forma, casou-se com o príncipe Satyavan e deixou tranqüilamente o palácio do seu pai para viver na cabana do bosque com o eleito do seu coração, ajudando-o a sustentar seus velhos pais. Embora Savitri soubesse quando seu marido iria morrer, sobre isto guardou estrito segredo.
Todos os dias, Satyavan entrava no bosque para colher frutas, flores e reunir feixes de lenha, voltando com a carga para a cabana, onde sua esposa preparava sua refeição.
Assim transcorria o tempo, até que três dias antes da data fatal, a moça resolveu passar três dias e três noites em completo jejum e fervorosas orações, sem deixar transparecer sua angústia e ocultando suas lágrimas. Finalmente, amanheceu o dia marcado pelo presságio e, não querendo perder de vista seu marido nem por um momento, Savitri solicitou e obteve dos seus pais permissão para acompanha-lo, quando ele saísse para a colheita diária de ervas, raízes e frutas silvestres no interior do bosque. Assim foi feito.
Estavam os dois no bosque quando, com voz enfraquecida, Satyavan queixou-se à sua esposa dizendo:
- Querida Savitri, sinto-me aturdido, meus sentidos se esvaem e o sono me invade. Deixa-me repousar um pouco ao teu lado.
Trêmula e assustada, Savitri replicou:
- Meu amado, vem e repousa tua cabeça em meu colo.
Satyavan reclinou a cabeça ardente no colo de sua esposa e, instantes depois, exalou seu último suspiro.
Abraçada ao cadáver do seu marido, desfeita em lágrimas, Savitri permaneceu na solidão do bosque, sentada no chão, até que chegaram os emissários da morte para levar a alma de Satyavan.
No entanto, nenhum deles pode acercar-se do local onde estava Savitri com o cadáver de Satyavan, porque ardia um círculo de fogo que rodeava a união formada pela vivente e seu marido morto.
Por esta razão, os emissários voltaram até onde se encontrava Yamaraja, o semideus da morte, e explicaram-lhe porque não puderam trazer a alma de Satyavan.
Assim sendo, Yamaraja foi pessoalmente ao bosque e, como era um semideus, conseguiu atravessar sem perigo o círculo de fogo e aproximar-se do local em que estava Savitri. Lá chegando, disse a ela:
- Minha filha, entrega-me este cadáver, pois já sabes que a morte é o destino de todo mortal. A morte é o destino irrevogável do homem.
Savitri deixou o cadáver do seu marido e Yamaraja, tirando-lhe a alma, com ela se afastou; porém, não havia andado muito, quando ouviu atrás de si passos sobre as folhas secas. Ao voltar-se, viu Savitri, a quem disse com paternal ternura:
- Savitri, minha filha, por que me segues? Este é o destino de todos os mortais.
Savitri respondeu:
- Não sigo a ti, senhor meu, porque o destino da mulher é ir onde seu amor a leva; a lei eterna não separa o amoroso esposo da fiel esposa.
Então Yamaraja disse:
- Pede-me a graça que quiseres, menos a vida do teu marido.
Ao que ela respondeu:
- Se desejas outorgar-me uma graça, Ó semideus da morte, peço-te que devolvas a vista de meu sogro e que ele seja feliz.
Yamaraja replicou:
- Cumpra-se teu piedoso desejo, respeitosa filha.
E ele seguiu seu caminho com a alma de Satyavan. Novamente ouvindo passos, voltou-se e viu que Savitri ainda o acompanhava.
- Savitri, minha filha, ainda me segues?
- Sim, meu senhor; nada posso fazer, pois embora me esforce por voltar, a mente corre atrás do meu marido e o corpo obedece. Tens a alma de Satyavan e como sua alma também é minha, meu corpo a acompanha.
Então, Yamaraja disse:
- Agradam-me tuas palavras, formosa Savitri. Pede-me outra graça, menos a vida do teu marido.
- Se vos dignares a conceder-me outra graça, faze com que meu sogro recupere seu reino e suas riquezas.
- Concedo-te, filha amorosa, mas volta para seu lugar, porque nenhum ser vivente pode andar em companhia de Yamaraja.
E o semideus da morte seguiu seu caminho.
Contudo, Savitri insistia em acompanha-lo e, voltando-se, Yamaraja com ela dialogou:
- Nobre Savitri, não me sigas com tua dor sem esperança.
- Não tenho remédio, senão ir para onde levas meu marido.
- Suponha, Savitri, que teu marido foi um perverso e que o levo para o inferno. Irias acompanhar teu marido?
- Iria alegre para onde ele fosse, quer na vida, quer na morte, seja no céu, seja no inferno.
- Benditas sejam tuas palavras, minha filha. Deixaste-me comovido. Pede-me outra graça, que não seja a vida de teu marido.
- Pois, já que me permites pedir-vos, faze com que não se quebre a régia estirpe do meu sogro e que seu reino seja herdado pelos filhos de Satyavan.
Yamaraja sorriu e disse:
- Filha minha, teu desejo será cumprido. Aqui tens a alma do teu marido. Ele voltará a viver e será pai dos teus filhos que, com o tempo, serão reis. Volta para tua casa. O amor triunfou sobre a morte. Jamais mulher alguma amou como tu e és a prova de que até eu, o semideus da morte, nada posso contra a força de um verdadeiro e perseverante amor!
Srila Prabhupada também contava esta história e sempre que se quer falar do exemplo de uma esposa ideal, os sábios contavam a história de Savitri, uma das mulheres mais castas e virtuosas da cultura védica.
(Texto enviado por Kesava Kasmiri Das.FONTE http://anjodeluz.ning.com/profiles/blogs/o-amor-triunfou-sobre-a-morte
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