Você deve estar pensando: "já vi esse filme antes". Provavelmente. Até porque, em tempos modernos, todo mundo valoriza a importância do otimismo, por esse ou aquele motivo. Mensagens positivas estão por toda parte, em livros, CDs, palestras, outdoors. Até mesmo o Orkut, maior site de relacionamento do mundo, mantém várias comunidades sobre o assunto. Essas pessoas acreditam que agindo dessa maneira irão atrair mais dinheiro, imóveis, carros, amigos, melhores posições sociais, ou seja, coisas boas. Até aí nenhum problema. No entanto, quando a ques tão chega à área da saúde, uma pertinente discussão surge: afinal, será que para garantir uma excelente condição física, mental e emocional, manter o pensamento positivo, mentalizar a melhora do próprio estado de saúde ou desejar ardentemente que uma doença desapareça são estratégias que produzem efeito?
Certamente os especialistas vão dizer que não. Ficar parado imaginando-se curado de um câncer, definitivamente, não é a terapia ideal. No entanto, estudos científicos sérios, realizados em diversos países, comprovam que uma atitude positiva diante de uma doença é um forte aliado para a melhora geral do indivíduo. Mas por que isso acontece ainda não se sabe. É unânime a conclusão de que a pessoa que encara com otimismo uma situação de doença tem mais disposição para seguir o tratamento pro posto pelo médico, de cuidar melhor de si mesma e tomar decisões que favoreçam o seu bem-estar.
Há três anos, pesando 163 kg, o administrador de empresas Douglas Braga, de Niterói (RJ), decidiu emagrecer sem recorrer aos medicamentos nem à cirurgia de redução do estômago. Ele perdeu 47 quilos. Como? "Além de fazer dieta, usei, e ainda uso, o pensamento positivo para eliminar peso", afirma Douglas, de 41 anos, que pretende enxugar mais 20 quilos. Esse é o tipo de depoimento que não convence a classe médica. Principalmente porque a obesidade já virou problema de saúde pública. Além disso, a maioria das pessoas sente dificuldade em atingir seu peso ideal, mesmo com os mais modernos tratamentos disponíveis. Os especialistas também apontam pa ra o fato de que Douglas não ficou esperando seu objetivo cair do céu. Ele também se submeteu a uma reformulação em sua dieta alimentar, o que é fundamental nesse caso.
Assim como o administrador de empresas, muitas pessoas acreditam que a recuperação de alguma doença se deve ao otimismo, à esperança ou à fé (como você quiser chamar esse tipo de atitude). No entanto, a ciência também dá o devido crédito ao pensamento positivo. "Um indivíduo autoconfiante, centrado, seguro e com boa auto-estima, não entra em depressão por conta de uma enfermidade", explica o médico psiquiatra José Toufic Thomé, coordenador do Departamento de Psicoterapia da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O especialista lembra que vários estudos publicados pela literatura médica comprovam que um bom humor incentiva a liberação da substância serotonina e de outros neurotransmissores responsáveis pe las sensações de prazer e bem-estar. "Desta forma, a pessoa fica mais motivada para buscar o que quer, inclusive lidando melhor com as dificuldades que uma doença pode proporcionar", explica o psiquiatra. "Quando o paciente acredita na cura e a deseja de verdade, vai usar todos os seus esforços de maneira consciente ou inconsciente para conseguir esse objetivo", afirma Plínio Montagna, diretor-científico da Sociedade Brasileira de Psicanálise.
Segundo o psicanalista, "estados mentais positivos estimulam o sistema imunológico. Por outro lado, a atitude negativa pode diminuir o poder de defesa do organismo". A explicação é a de que o otimismo e a alegria inibem a produção de hormônios como a adrenalina que, em excesso, baixam essas defesas e ainda podem elevar a pressão arterial, o que favorece os problemas cardiovasculares.
Pés no chão
OS ESPECIALISTAS ACREDITAM QUE UM INDIVÍDUO AUTOCONFIANTE, SEGURO, COM BOA AUTO-ESTIMA, NÃO ENTRA EM DEPRESSÃO POR CONTA DE UMA ENFERMIDADE. ENTRETANTO, O PENSAMENTO MÁGICO, QUE BEIRA A SUPERSTIÇÃO, PODE LEVAR A FRUSTRAÇÕ |
"O pensamento positivo faz bem, mas não se pode negar a existência da doença", explica o psicólogo. "Há quem deixe de procurar tratamento adequado à espera de um milagre", revela. Ou seja, embora o estado psíquico do paciente seja importante, nada substitui o tratamento. "É fato, porém, que a doença não atinge somente a parte biológica, mas também a psicológica e a social", explica.
Questão de genética
As pessoas são geneticamente pre dispostas ao otimismo ou ao pessimismo, afirma o psiquiatra José Toufic Thomé. "Elas são capazes, inclusive, de vivenciar situações positivas, mesmo que as coisas estejam complicadas", esclarece. O fator ambiente, porém, também influencia na personalidade. O médico explica que, para encarar a vida de maneira positiva, o indivíduo, primeiro, tem de estar equilibrado emocionalmente e de bem consigo mesmo. Já pessoas que não se relacionam com outras estão mais sujeitas à depressão, o que compromete mais ainda a doença.
O psiquiatra Plinio Montagna também concorda que o otimismo é inato, mas também pode ser "desenvolvido, treinado, aprimorado e fortalecido". Muitos, por exemplo, buscam esperança e conforto emocional na religião. Outros procuram auxílio psicoterapêutico ou até mesmo se inspiram em livros de auto-ajuda.
Vida melhor e mais longa
Sabe aquela história de que quanto mais você sorri, mais irá viver? Pois é, não é balela. Pelo menos de acordo com uma pesquisa que mostrou que idosos que têm uma visão positiva do envelhecimento vivem, em média, 7,6 anos a mais do que aqueles que têm percepções negativas sobre o mesmo processo. A conclusão foi fruto de um levantamento, feito na década de 70, que pediu aos entrevistados que contassem como se sentiam em relação ao próprio envelhecimento. Após 23 anos, os pesquisadores cruzaram essas respostas com as atuais, respondidas pelos mesmos voluntários. Esse estudo, conduzido pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, acompanhou 660 pessoas do Estado de Ohio, que estavam, após o período de duas décadas, com a idade mínima de 50 anos.
Baseado nesse e em outros resultados, a psicóloga e coordenadora do estudo, Becca Levy, acredita que, na teoria, o sentimento das pessoas em relação à velhice seria até mesmo mais importante do que controlar a pressão e o colesterol, o que garante apenas quatro anos a mais de vida. Já o peso dentro do ideal e os exercícios físicos acrescentariam entre um ano e três anos de vida aos mais velhos.
Uma outra pesquisa realizada pelo Instituto Delfland de Saúde Mental, na Holanda, concluiu que pessoas otimistas correm menos riscos de morrer de doenças cardiovasculares ou derrame cerebral do que os pessimistas.
O estudo acompanhou, por 15 anos, um grupo com 545 homens. Eles tiveram que responder a questionários, inclusive para determinar se teriam uma visão positiva da vida. Aqueles que foram classificados como otimistas tinham 55% menos chances de morrer de doenças cardíacas ou derrame, inclusive considerando-se fatores importantes como fumo e histórico familiar.
Outro ponto importante que os especialistas não se cansam de mencionar é: comparados aos pessimistas, constatou-se que aqueles que têm uma visão positiva da vida tendem a praticar mais atividades físicas. Conseqüentemente, os resultados se refletem na saúde e na qualidade de vida. Disso, ninguém duvida.
POR EULINA OLIVEIRA E LILIAN HIRATA
fonte : http://ignotus.com.br/profiles/blogs/querer-poder
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